O Vírus Respiratório Sincicial (RSV): um guia completo para o compreender

O Vírus Respiratório Sincicial (RSV) é um agente patogénico altamente contagioso, responsável por infeções respiratórias que afetam sobretudo recém-nascidos, crianças pequenas e idosos. Considerado uma das principais causas de hospitalização pediátrica, o RSV representa um desafio global para a saúde pública.

O que é o Vírus Respiratório Sincicial?

O Vírus Respiratório Sincicial (RSV) é um agente patogénico muito comum, responsável por várias infeções respiratórias, que afeta principalmente recém-nascidos, crianças pequenas e idosos com problemas de saúde pré-existentes. É conhecido pela sua capacidade de causar doenças como constipações, bronquite e, nos casos mais graves, bronquiolite e pneumonia.

O RSV foi descoberto em 1956 por um grupo de investigadores liderado por Robert M. Chanock, no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH).
A descoberta ocorreu após o estudo de uma infeção respiratória que tinha afetado jovens chimpanzés num laboratório. Inicialmente denominado “vírus dos chimpanzés”, foi mais tarde renomeado “respiratório sincicial”, devido à sua capacidade de induzir a fusão das células infetadas, formando grandes sincícios. Esta característica peculiar abriu caminho para uma melhor compreensão do vírus e das suas implicações clínicas, tornando-o um dos principais objetos de estudo em virologia pediátrica.

Todos os anos, cerca de 57.000 crianças com menos de 5 anos são hospitalizadas nos Estados Unidos devido a complicações associadas ao RSV. A nível mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o vírus seja responsável por 100.000 mortes anuais entre crianças com menos de 5 anos, com incidência particularmente elevada em países de baixo rendimento.
Mesmo os idosos não estão isentos de risco: só nos Estados Unidos, registam-se cerca de 14.000 mortes por ano entre pessoas com mais de 65 anos.

 

Como atua o Vírus Sincicial


Depois de entrar no organismo, o vírus liga-se às células epiteliais do trato respiratório superior através de proteínas específicas da sua superfície, como as proteínas F e G. A proteína F, em particular, facilita a fusão entre a membrana viral e a membrana celular, permitindo que o material genético do vírus entre na célula hospedeira.

Dentro da célula infetada, o vírus replica-se, provocando danos rápidos nos tecidos e desencadeando uma resposta inflamatória. Esta infeção leva à formação de “sincícios”, grandes células multinucleadas formadas pela fusão de várias células epiteliais. Os sincícios interferem com a função normal das células respiratórias e contribuem para uma maior produção de muco e inflamação generalizada do tecido pulmonar.

Quando o vírus progride para os pulmões, pode causar infeções graves como bronquiolite ou pneumonia. Nos pacientes mais vulneráveis, o dano ao tecido pulmonar e o acúmulo de muco podem estreitar as vias respiratórias, dificultando a oxigenação do sangue e aumentando o risco de insuficiência respiratória.

A ação do vírus não se limita ao dano direto: o sistema imunitário, ao tentar combater a infeção, contribui para a inflamação local, agravando os sintomas. Este mecanismo é particularmente evidente em recém-nascidos, cujo sistema imunitário ainda não está plenamente desenvolvido, e em idosos, nos quais a imunossenescência reduz a eficácia da resposta imunitária.

Estudos sugerem que a gravidade da infeção por RSV depende também de fatores genéticos e ambientais, como a exposição ao fumo passivo, a poluição atmosférica e a prematuridade, que podem agravar os danos respiratórios causados pelo vírus.

 

Os sintomas do vírus

Os sintomas do RSV variam significativamente consoante a idade e o estado de saúde geral do paciente. Em recém-nascidos e crianças pequenas, o vírus pode manifestar-se com tosse persistente, dificuldade respiratória — como respiração ofegante e retrações torácicas —, febre, congestão nasal e, em alguns casos, apneia.

Em adultos saudáveis, o RSV apresenta-se frequentemente com sintomas ligeiros semelhantes aos de uma constipação comum, como corrimento nasal, febre baixa e dor de garganta. No entanto, em idosos e pessoas com doenças crónicas, como asma ou doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), o vírus pode agravar condições pré-existentes e conduzir a complicações mais sérias.

 

Causas e modos de contágio


O Vírus Sincicial é altamente contagioso e transmite-se principalmente através de gotículas respiratórias expelidas quando uma pessoa infetada tosse ou espirra. O contacto direto com uma pessoa doente ou com superfícies contaminadas — como brinquedos, copos ou toalhas — também pode favorecer a transmissão.
Um aspeto crítico é que o vírus pode sobreviver várias horas em superfícies não porosas, aumentando o risco de contágio em espaços fechados como escolas, hospitais e lares.

 

Tratamento e gestão do Vírus Sincicial

Atualmente, não existe uma cura específica para o RSV. No entanto, o tratamento visa aliviar os sintomas e prevenir complicações. Nos casos mais ligeiros, basta manter uma boa hidratação, utilizar antipiréticos para controlar a febre e garantir descanso. Nos casos mais graves — especialmente em recém-nascidos ou pacientes com insuficiência respiratória — pode ser necessária oxigenoterapia ou, em situações extremas, ventilação assistida.

Um avanço importante na prevenção é o palivizumab, um anticorpo monoclonal desenvolvido para proteger recém-nascidos de alto risco, como prematuros ou crianças com cardiopatias congénitas. Administrado durante a época epidémica, demonstrou reduzir as hospitalizações.

A prevenção é essencial para limitar a propagação do vírus, sobretudo nos grupos mais vulneráveis. Lavar as mãos frequentemente com água e sabão é uma das medidas mais eficazes. Evitar contacto próximo com pessoas doentes, limpar regularmente superfícies e objetos partilhados, e reduzir a exposição de recém-nascidos a grandes grupos durante a época epidémica pode fazer uma grande diferença.

Nos últimos anos, a investigação tem feito progressos significativos. Em 2023, a FDA aprovou a primeira vacina contra o RSV para adultos idosos, um marco que representa uma mudança importante na prevenção do vírus. Paralelamente, decorrem ensaios clínicos de vacinas destinadas a recém-nascidos e mulheres grávidas, com o objetivo de fornecer proteção passiva aos bebés nos primeiros meses de vida.

Além das vacinas, novas terapias antivirais estão a ser desenvolvidas para reduzir a gravidade das infeções. Estes avanços, combinados com educação para a saúde, podem reduzir significativamente o impacto global do RSV nos próximos anos.