O que é o nistagmo e como avaliá-lo com o oftalmoscópio

Por detrás dos movimentos oculares rápidos e involuntários, conhecidos como nistagmo, escondem-se pistas vitais sobre o sistema neurológico e vestibular. O oftalmoscópio permite observar estes movimentos em detalhe, ajudando a distinguir entre as várias formas de nistagmo e a compreender melhor as suas causas.

O que é o nistagmo e quais são as suas características?

O nistagmo representa um fenómeno clínico complexo, caracterizado por movimentos involuntários e rápidos de um ou ambos os olhos, que pode manifestar-se em qualquer idade.

O termo “nistagmo” deriva do grego nistazo, que significa “balançar”, fazendo alusão ao movimento rítmico dos olhos.
Este distúrbio pode ser sintomático de diversas patologias, desde alterações oculares a problemas neurológicos.
Por isso, é fundamental realizar uma avaliação aprofundada para garantir um diagnóstico e um tratamento eficazes.

As quatro características principais que definem um nistagmo são:

  • Direção: pode manifestar-se de forma horizontal, vertical, torsional ou mista. Mais adiante analisaremos as características que as diferenciam.
  • Amplitude: indica a distância percorrida pelos olhos durante cada fase do movimento. Esta pode variar desde oscilações pequenas e quase imperceptíveis até movimentos amplos e visíveis. Uma maior amplitude significa que os olhos percorrem uma maior distância entre o ponto de partida e o ponto de chegada em cada oscilação.
  • Frequência: mede o número de oscilações por minuto e é geralmente classificada como baixa ou elevada. Por exemplo, uma frequência baixa pode ser inferior a 10 oscilações por minuto (OPM), enquanto uma frequência elevada pode ultrapassar as 50 OPM. A frequência influencia a perceção visual e o grau de desconforto para o paciente.
  • Intensidade: resulta da combinação da amplitude com a frequência. Calcula-se multiplicando a amplitude pela frequência. Se a amplitude do movimento for grande e a frequência elevada, a intensidade será alta, tornando o nistagmo mais evidente.

 

Tipos de Nistagmo

Os tipos de nistagmo podem ser classificados segundo vários critérios. Eis uma visão geral das principais classificações:

Nistagmo segundo a direção:

  • Nistagmo horizontal: os olhos movem-se da esquerda para a direita e vice-versa.
  • Nistagmo vertical: os olhos movem-se de cima para baixo.
  • Nistagmo torsional: os olhos rodam em torno do seu eixo visual, realizando movimentos circulares como se orbitassem em torno de um ponto central. É menos comum e pode estar associado a condições mais raras.
  • Nistagmo misto: combina movimentos horizontais, verticais e torsionais.

Nistagmo segundo o tipo de movimento:

  • Nistagmo pendular: os movimentos oculares são oscilatórios e uniformes, semelhantes aos de um pêndulo. As fases rápida e lenta do movimento apresentam velocidades semelhantes.
  • Nistagmo em sacadas: os movimentos têm uma fase lenta e uma fase rápida, sendo esta última bastante mais rápida. Pode ser horizontal, vertical ou rotatório.

Nistagmo segundo a frequência e amplitude:

  • Nistagmo de alta frequência: movimentos oculares rápidos e frequentes.
  • Nistagmo de baixa frequência: movimentos menos frequentes, podendo indicar condições crónicas menos graves.

Nistagmo segundo fatores temporais:

  • Nistagmo congénito: surge desde o nascimento ou nos primeiros meses de vida.
  • Nistagmo adquirido: desenvolve-se ao longo da vida, geralmente em idade adulta, devido a doenças, traumas ou condições neurológicas.

Nistagmo segundo a posição:

  • Nistagmo posicional: ocorre em resposta a mudanças na posição da cabeça ou do corpo.
  • Nistagmo espontâneo: surge sem estímulos externos ou alterações de posição, podendo indicar doenças mais graves ou disfunções do sistema nervoso central.

Nistagmo segundo a resposta a estímulos:

  • Nistagmo por estímulo: ocorre em resposta a estímulos específicos, como movimentos ou variações de luz, e pode indicar respostas anómalas do sistema vestibular.
  • Nistagmo induzido: surge como resultado de manobras diagnósticas, como o teste de Dix-Hallpike.

 

Causas principais

As causas do nistagmo são variadas e podem ter origem em diferentes problemas, agrupados em três grandes categorias:

  • Nistagmo ocular: está associado a disfunções ou anomalias oculares. As causas incluem catarata congénita, doenças da retina e do nervo ótico, distrofias retinianas, albinismo e aniridia.
  • Nistagmo vestibular: resulta de disfunções do sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio e perceção do movimento. Frequentemente acompanhado por vertigens, pode dever-se a problemas no ouvido interno ou no sistema nervoso central.
  • Nistagmo patológico: é sinal de condições neurológicas como esclerose múltipla, tumores cerebrais, hidrocefalia, doenças desmielinizantes, encefalite, meningite, tumores do sistema nervoso central e do cerebelo, tumores do nervo ótico, hemorragias e AVCs, e leucomalácia periventricular.

 

Para que serve o oftalmoscópio no diagnóstico do nistagmo

O oftalmoscópio é um instrumento essencial para os oftalmologistas, usado para examinar o interior do olho, especialmente a retina e o nervo ótico. No diagnóstico do nistagmo, oferece várias vantagens:

  • Avaliação da retina e do nervo ótico: permite identificar anomalias ou patologias causadoras de nistagmo, como doenças da retina ou do nervo ótico.
  • Observação dos movimentos oculares: durante o exame, o médico pode observar diretamente os movimentos involuntários característicos do nistagmo, ajudando a identificar o tipo e a frequência.
  • Deteção de doenças associadas: algumas condições oculares e neurológicas causadoras de nistagmo podem ser detetadas com a oftalmoscopia, como neurite ótica, retinopatia ou tumores do nervo ótico.
  • Avaliação da função visual: o oftalmoscópio ajuda a avaliar a saúde geral do olho e a função visual, fundamentais para compreender o impacto do nistagmo na visão do paciente.

O nistagmo pode afetar significativamente a qualidade de vida, provocando sintomas como vertigens, dificuldades visuais e desorientação. Um diagnóstico atempado é essencial para melhorar o bem-estar do paciente.

 

A escolha do oftalmoscópio adequado para a avaliação do nistagmo

O oftalmoscópio revela-se uma ferramenta indispensável para a observação e avaliação do nistagmo.
Existem dois tipos principais de oftalmoscópio – direto e indireto – cada um com as suas vantagens e limitações, que devem ser consideradas consoante as necessidades específicas do exame e o tipo de nistagmo a avaliar.

  • Oftalmoscópio direto: permite uma visão detalhada da retina graças a uma luz direta e a um sistema de lentes. É particularmente útil para exames de proximidade e para identificar anomalias oculares. No entanto, o campo de visão mais limitado pode dificultar a observação de estruturas mais profundas do olho, comprometendo assim a avaliação de nistagmos com grande amplitude e frequência elevada.
  • Oftalmoscópio indireto: utiliza uma luz mais ampla e um sistema de lentes que proporciona uma visão panorâmica do fundo ocular. Este instrumento é preferido para exames mais completos e detalhados, sobretudo quando é necessário observar movimentos oculares complexos ou patológicos. Apesar das suas vantagens, requer uma maior colaboração por parte do paciente e pode ser menos confortável do que o oftalmoscópio direto, especialmente para profissionais com menos experiência.

A escolha do oftalmoscópio depende também do objetivo do exame. Se for necessária uma avaliação inicial e rápida, o oftalmoscópio direto pode ser suficiente. Para exames mais detalhados, sobretudo em casos de nistagmo complexo, o oftalmoscópio indireto é geralmente a melhor opção.

 

Para um diagnóstico completo:

É importante salientar que, para uma avaliação completa e precisa do nistagmo, é necessário integrar os resultados do oftalmoscópio com outros exames diagnósticos, como testes vestibulares e neurológicos.

O oftalmoscópio, por si só, não oferece um quadro clínico completo e detalhado da condição. Por conseguinte, uma abordagem multidisciplinar e o acompanhamento contínuo da progressão do nistagmo são fundamentais para um diagnóstico exato e uma gestão clínica eficaz.